Participando de um fórum sobre práticas docentes, fui questionada por um colega de qual deveria ser a tolerância, quando um "Professor" comete erros ortográficos constantemente?
Respondi:
Na verdade, caros colegas acadêmicos, o que vejo nessa prática vai muito além dos conceitos, práticas e conteúdos. É uma questão cultural! Sim, é inevitável não acontecer deslizes. Estamos todos constantemente suscetíveis aos erros. Isso nos dá condições de acertar. Mas persistir em algo que não tem dado certo?
Historicamente se sabe que a profissão do professor, por muito tempo, foi vista como a que repassava conhecimentos aos "discípulos". Pensava-se também que, os grandes sábios, necessitavam apenas do ócio e muitos livros para adiquirir informações. Ficando, então, impregnado na massa (e mal impregnado em alguns atuais "educadores") que a profissão professor é a ideal para quem se dispõe a não "trabalhar" além das 4h de exposição numa sala de aula, e ser aquele que conhece conteúdos importantes - que de tão desatualizados parecem não fazer parte do meio que os alunos convivem hoje.
Caros colegas, vocês sabiam que os PCNs, dos quais nossos conteúdos e práticas são baseados, teve sua última edição datada em 1998? E sabiam também da existência de educadores, cujas práticas pedagógicas são fundamentadas nesses parâmetros, que não conhecem sequer a introdução desses cadernos?
Infelizmente, lançar mão de teorias, projetos, e sistemas inovadores, vejo que não faz sequer cócegas no comodismo dos nossos então atuais profissionais da educação no Brasil. Penso que não passa de uma triste repetição: o sistema age assim conosco, e por consequência nós agimos assim com nossos alunos.
Ok! Então seria questão de investimento? / Acho que sim. Minha resposta é: Claro que o sistema tem que investir mais. Investimento, a própria palavra já significa o seu resultado - aplicação de algo no propósito de se obter lucro.
Mas então isso bastaria?
Sagrados...
É óbvio que não. Tudo de se trata de perfil. Da imagem que é traçada pela cultura.
Cristóvão Buarque, certa vez, disse em uma entrevista que assisti na TV Minas que o certo seria os nossos profissionais se encararem literalmente (volto lá em cima), se enxergarem, se perceberem e se tornarem seres vulneráveis. Suscetíveis a erros e principalmente a novos conceitos, novos conhecimentos, novas práticas. Se virem como profissionais que necessitam de atualizações, práticas inovadoras, e "humildade" de se sentirem enganados, recorrerem às fontes de respostas às suas dúvidas.
Pensar que sabe tudo? Coisa antiga, fora de prática.
E ainda existem educadores que pensam assim.
O fato é, deixar de trabalhar pelo que é pago em espécie, mas justificar o seu próprio profissionalismo. E se a espécie não satisfaz, provocar o sistema para satisfazê-la. Adepta a greve, ou não, o que acredito é no se fazer. Não mostrar no grito, mas no quão é importante a participação de profissionais inteiramente educadores para contribuição na formação de sujeitos verdadeiramente sociais...
Pessoal, peço só mais um pouquinho de fosfato. Reflitam: Médico e professores, profissões que trabalham literalmente com a vida e são faiscadamente discrepantes no que se diz a valorização.
Digo ainda: são as exigências.
Não se vê médico morrendo por causa de uma concorrência por contrato, ou concursos.
E na minha opinião o que ainda nos falta é 'auto-valorização', profissionalismo e comprometimento com as "nossas" exigências.
Se o sistema precisa e quer o meu conhecimento; quer o que tenho para lhe oferecer; quer minha "mão de obra"? Então pague um valor justo!
Espero, com muita fé, que os novos profissionais, ou talvez os já atuantes, possam ter de si mesmos maior esclarecimento de como se considerar um "profissional".
Um professor de filosofia uma vez disse à turma de Letras - 1° período/2001: As pessoas só acharão vocês bons se vocês lhes considerarem ótimos.
Cordialmente,
Geórgia Kelly