Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo...
Darcy Ribeiro
Certa vez um professor de Sociologia nos agraciou com uma aula cujo objeto era o que nós como professores de Língua Portuguesa poderíamos contribuir à abordagem da diversidade cultural dentro da instituição numa perspectiva de sermos responsáveis pela formação cidadã de um sujeito.
Darcy Ribeiro
Certa vez um professor de Sociologia nos agraciou com uma aula cujo objeto era o que nós como professores de Língua Portuguesa poderíamos contribuir à abordagem da diversidade cultural dentro da instituição numa perspectiva de sermos responsáveis pela formação cidadã de um sujeito.
Foi então que conheci verdadeiramente as concepções saudosas de Darcy Ribeiro... Saudosas e imortais para aqueles que se curvam à ideologia da Educação como patrimônio público. E é partindo daqui que convido agora ao leitor destas ideias, viajar comigo num pouco na história da humanidade.
Num primeiro momento, para que se compreenda o conceito de diversidade cultural, é preciso que interpretem como uma percepção negativa, frente ao outros povos, a atitude greco-romana, que cunhou a expressão bárbaros para se referirem aos povos que não partilhavam de suas concepções culturais. Da mesma forma como também as comunidades do tronco Tupi, que cunharam o termo tapuia para designar depreciativamente outros povos, como também os judeus, que designaram de gentios aqueles seres menores que não foram escolhidos como povos eleitos.
Obviamente a afirmação do eu através da diferenciação em relação a outros povos é um fenômeno natural no processo de construção ‘identitária’ . No entanto, em um mundo globalizado, quando as fronteiras são trespassadas por infinitos signos e representações, as questões da identidade e da convivência se tornaram essenciais para refletirmos sobre o que esperamos do mundo no futuro. A necessidade de estabelecer vias para a convivência e gerar relações mais harmoniosas é uma atitude vital, apesar de difícil.
É a partir disso que acredito que a participação da Escola como formadora de consciência cultural se faz fundamental. No entanto, o primeiro passo que se dever ser feito, é a própria instituição se orientar a fundo sobre as especificidades de cada comunidade cultural, bem como criar estratégias para que os saberes adquiridos sejam repassados "inteligivelmente" aos que da escola se servem. Por fim, qualquer intenção real de conhecer o outro, e assim estabelecermos uma forma de convivência razoável, exige que superemos a superficialidade de algumas representações constituídas por grande parte dos meios de comunicação, salvo poucas exceções.
Como graduanda em Educação, acredito que o exercício de superação do etnocentrismo parte do seguinte ponto: ao longo da história e dos espaços geográficos vários povos construíram para si o sentido próprio para suas ações, o que denominamos cultura.
Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidade e regras sobre relações e modos de comportamento (SCHENEIDER Apud LARAIA, p. 63, 2007). Ou seja, aquilo que produz sentido ou orientação, que é construído a partir de uma rede de símbolos, dando significados às relações e as coisas do mundo, é o que denominamos cultura. Quando entendemos a diversidade de sentidos e projeções compreendemos e aceitamos, e assim abandonamos a noção de superioridade etno-cultural ou qualquer tipo de projeto iluminador.
Sabe-se que relativizar os sentidos para a vida, dados ao longo da existência de qualquer comunidade, nos exige, posteriormente, a produção de um pensamento que viabilize a convivência, ou seja, é necessário estabelecer encontros entre culturas, de forma que haja interesses mútuos e, acima de tudo, o interesse pela convivência pacífica, e isto só é possível quando temos consciência da necessidade de conhecer os elementos de outras culturas.
Desta forma, penso que a escola tem como função social sistematizar e disseminar os conhecimentos historicamente elaborados e compartilhados por uma determinada sociedade. Por isso, os projetos educativos, em geral e, principalmente aqueles que ocorrem em seu interior, devem se constituir em dinâmicas de socialização da cultura.
Quando existem interações sociais que se desenvolvem neste espaço formativo, são criadas situações que ajudam crianças e adolescentes a compreenderem-se a si mesmo e aos seus outros sociais, enquanto sujeitos sociais e históricos, produtores de cultura e, assim, oportuniza a construção da base inicial para a vivência efetiva de sua cidadania.
Com o objetivo de combater atitudes e comportamentos intolerantes e de discriminação contra grupos e/ou pessoas vulneráveis ou em situação de risco pessoal e social, é possível incluir no planejamento de trabalho do professor, temáticas que discutam questões relativas à diversidade sociocultural (gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiências, entre outras).
O professor pode, ainda, adotar/implementar projetos e programas educacionais e culturais, com o apoio das redes de assistência e de proteção social, que visem à promoção de uma cultura de paz e de prevenção e enfrentamento das diversas formas de violência. Como levar em consideração conteúdos e atividades que visem desenvolver nos alunos atitudes, condutas e ações que favoreçam/fortaleçam comportamentos cooperativos, dialógicos e participativos.
A escola deve privilegiar o exercício do diálogo como forma de resolver pequenos conflitos e de ajustar pontos de vistas distintos. Ao negociar, no grupo, a adequação do seu ponto de vista, os alunos tomam contato com outras formas de pensar, de sentir e de agir, levando-os a relativizarem seu próprio pensamento acerca do problema em questão, desenvolvendo o espírito de cooperação e de solidariedade entre eles mediante fortalecimento de atitudes de respeito ao colega e ao bem comum.
Percebam que no decorrer de minhas ideias, não atribuo esta responsabilidade apenas ao professor, mas sim à escola como um todo, pois acredito que por mais que o trabalho educativo seja exercido individualmente quando se atua de fato, toda a organização e preparação pedagógica cabem à instituição. Ela sim é a gestora de toda a qualidade do ensino que caberá aos seus clientes internos e externos (alunos e professores).
Tal condução do processo educativo exige a adoção de práticas orientadas criticamente para a completa ressignificação da capacidade de pensar, agir, sentir e julgar na direção da promoção do respeito e aceitação de culturas diferentes.
As metodologias de ensino devem ser desenvolvidas, a partir da concepção de um sujeito no processo educativo, contemplando uma pedagogia fundada no diálogo, na participação coletiva. Tal prática pedagógica pode ser potencializada mediante a realização de oficinas pedagógicas, rodas de conversa, debates, criação de fóruns de discussão e de deliberação coletivas, assembléias escolares, círculos de cultura e de lazer.
O professor pode, ainda, propor e sistematizar situações-problemas que envolvam atividades coletivas ou em pequenos grupos, onde os alunos sejam convidados a discutir, planejar, executar e avaliar determinada tarefa, só possível mediante a colaboração de todos os envolvidos.
Essas são apenas algumas das inúmeras possibilidades de contribuir para a construção de uma cultura sobre o respeito à Diversidade Cultural. Quanto maior e mais qualificada for a inserção da escola na proposta de educar para os direitos humanos, maior será a probabilidade de formarmos de sujeitos não-violentos, capazes respeitarem as diferenças, estimulados com atitudes de tolerância e paz.